domingo, 13 de dezembro de 2009

JOVENS DE FAVELAS TEM UMA VISÃO MAIS CRÍTICA DO QUE JOVENS DA CLASSE MÉDIA EM RELAÇÃO AS DROGAS

Os jovens moradores de favelas cariocas têm uma visão mais crítica em relação às drogas do que a classe média. A postura é fruto da convivência diária com o tráfico, diz o coordenador do Programa de Jovens em Território Vulnerável (Protejo) no Complexo da Maré, Carlos Costa.
Os jovens moradores de favelas têm uma visão mais conservadora e crítica em relação às drogas do que a classe média. A postura é fruto da convivência diária com o tráfico, como forma pragmática de garantir a própria sobrevivência. A análise é do coordenador do Programa de Jovens em Território Vulnerável (Protejo) no Complexo da Maré, Carlos Costa.

“Eles têm uma posição muito rígida em relação às drogas. A grande maioria não aceita a descriminalização do usuário e é mais favorável à punição, tanto para usuário quanto para traficante. Além disso, acham que a flexibilização de pena para o usuário faz ele ficar mais vulnerável, porque cria uma possibilidade maior de ser usado pelos traficantes para transportar drogas”, afirmou Costa.

O assunto será debatido hoje (12) no 1o Seminário de Drogas e Dependência Química do Protejo-Maré, que reunirá jovens, lideranças comunitárias e especialistas, a partir das 9h30, no auditório do Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), em Bonsucesso, zona norte do Rio.

Ligado à ONG Viva Rio, Costa morou durante 40 anos na favela da Rocinha e atualmente é responsável pelo Protejo-Maré, que atende 500 jovens. A iniciativa faz parte do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), do Ministério da Justiça, e oferece oficinas profissionalizantes e atividades educativas, esportivas e culturais para jovens em situação vulnerável.

Segundo ele, a repulsa que a maioria das famílias de comunidades tem em relação às drogas é muito mais uma questão de sobrevivência do que uma posição cultural ou religiosa.

“O conservadorismo é menos pautado pelo posicionamento político e muito mais pelo risco, pelo medo e pela vulnerabilidade que as próprias famílias dos usuários ficam, pela ação policial ou pela retaliação de outra facção criminosa. O envolvimento com drogas na favela é perigo de vida. É literalmente o caminho da morte”, sustentou.

Entre as drogas mais devastadoras, ele citou o crack, lembrando que ele é consumido tanto na periferia quanto na classe média, mas com uma diferença: “O garoto favelado conhece a pedra de crack antes de conhecer o primeiro professor. Isso não acontece no asfalto, onde o contato com as drogas é uma questão de opção, ao contrário da favela.”

Outra diferença apontada por ele é a falta de serviços de saúde voltados à recuperação dos viciados pobres, que não dispõem de meios particulares de tratamento, como a classe média. Também a abordagem policial é diferenciada, segundo classe social.

“O Estado é ausente nas favelas em relação à prevenção às drogas. Você não tem nenhuma ajuda terapêutica. Na classe média, existem alternativas e a droga é coibida de forma diferente. A gente sabe claramente que a maior boca de fumo no Rio de Janeiro é o Posto 9 [em Ipanema], mas a relação com os usuários é diferente da com os usuários da Rocinha e da Maré”, comparou

Fonte: vermelho.org.br

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