Sem o ‘efeito China’, superávit da balança se transformaria em déficit e saldo negativo da conta corrente saltaria de 2% para 4% do PIB
No mercado financeiro, o Brasil é considerado hoje um "derivativo" da China. Derivativos são contratos cujos preços dependem da cotação de outro ativo. "A performance do mercado brasileiro é muito ligada à China. O Brasil tem o ônus e o bônus dessa relação", diz Ricardo Lacerda, presidente da BR Partners, uma das principais empresas de fusões e aquisições do País.
Dependência
Traduzindo para a economia real: se a crise nos Estados Unidos e na Europa atingir a China, o Brasil será castigado. A percepção dos investidores vem do aumento da dependência do país em relação ao gigante asiático depois da quebra do Lehman Brothers em 2008. O apetite chinês garantiu a alta das commodities em meio à recessão global, reduzindo a vulnerabilidade externa brasileira.
Nos 12 meses até junho, o Brasil teve déficit em conta corrente (inclui todas as transações com exterior) de US$ 49 bilhões, ou 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Sem o "efeito China" da alta das commodities, o superávit comercial se transformaria em déficit e o saldo negativo da conta corrente chegaria a US$ 89 bilhões, ou 4% do PIB, revela cálculo da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
Ponto mais crucial
É por isso que a economia chinesa está no radar do governo. Segundo uma fonte do Ministério da Fazenda, o Brasil tem um mercado interno robusto, o que limita o contágio externo, mas a situação asiática é seguida com lupa. "A China é o ponto mais crucial, porque afetaria a economia real imediatamente", disse o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, esta semana em Brasília.
Nos últimos três anos, a China se consolidou como o maior parceiro comercial do Brasil e anunciou investimentos bilionários no País. Para driblar o real forte, a indústria brasileira compra mais insumos na China. "A dependência dos fornecedores chineses cresceu. Se a crise piorar e secar o crédito para a importação, a indústria para. Estamos mais vulneráveis", disse José Roberto Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Associados.
Cliente preferencial
Em 2008, a China absorvia 6,7% das vendas externas do País. No primeiro semestre deste ano, representou 17%. "A demanda dos países ricos caiu, enquanto a China continuou a consumir ", explica Mônica de Bollle, sócia da Galanto Consultoria. Em 2008, a Vale vendia 28% do seu minério de ferro para a China. No segundo trimestre deste ano, destinou aos chineses 41,9% do total.
O apetite chinês baliza os preços das commodities, que representam quase 70% do que o Brasil vende no exterior, conforme cálculo da Rede Agro. A alta das commodities pós-2008 proporcionou termos de troca recordes para o Brasil, variável que compara preços de produtos exportados e importados.
Torcer pela China
"É um ganho de renda para o País, que pode importar mais com a mesma quantidade de exportação", diz José Júlio Senna, sócio-diretor da MCM Consultores.
Até agora o Brasil colheu o bônus da relação com a China, mas se o país asiático sucumbir à crise pode ser a hora do ônus. Os especialistas esperam uma desaceleração gradual da China e manutenção de demanda forte por commodities. Mas, se a situação piorar, o efeito para o Brasil seria em cascata: commodities em queda, menos exportação, mais déficit em conta corrente, queda do real e inflação.
Para Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex, essa "catástrofe" reduziria a capacidade do governo de reagir à crise com corte de juros ou estímulos fiscais. "É o dilema que o governo Dilma quer evitar: perder o controle da inflação ou deixar o País entrar em recessão?", questionou. Só resta torcer pela China.
Fonte: vermelho.org.br
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