domingo, 28 de agosto de 2011

GESTÃO PARTICIPATIVA...

No ano passado tive o privilégio de participar de um curso de GESTÃO PÚBLICA, que fora realizado pelo IFRN. Curso esse que fora aberto para toda sociedade, principalmente departamentos públicos, nos quais foram incluídos câmaras municipais e prefeituras vizinhas, sendo que poucas mandaram representaçãoes para participar do curso. Infelismente, daqui de Santa Cruz os secretários e o gestor local não participaram, muito menos mandaram representações.

O curso, me fez entender como funciona uma gestão pública, e o que vejo, é que os nossos gestores locais gerenciam as prefeituras de forma totalmente erradas, sem a participação do povo. Na minha opinião, esse tipo de gestão está ultrapassado. No meu entender uma gestão participativa é a forma mais adequada e correta para gerenciar um município, tendo em vista que um gestor só tem sucesso, quando a população participa, dando ideias, opiniões, críticas e sugestões na governância municipal.



PROJETO DE LEI QUE PEDE 20% PARA APOIAR ARTISTAS LOCAIS VIRA POLÊMICA NA CÂMARA MUNICIPAL DE SANTA CRUZ

Na última Terça-Feira, ocorreu na Câmara Municipal de Santa Cruz mais uma sessão histórica, daquelas que acontecem de tempos em tempos. O único vereador de oposição, o nobre vererador Lucicláudio apresentou um projeto de supra importância para a classe artística de nossa cidade. Projeto esse, que pedia 20% do orçamento municipal para apoiar de forma geral os artistas da terra.

Apesar da boa intenção do projeto para a classe artística de nosso município, a proposta dos 20% não agradara os oito vereadores, que alegaram que pesaria muito nas contas do governo municipal. Horas, o que diabos é 20% que os artistas estão reinvidicando num orçamento de quase 40 milhôes de reais? Afinal de contas, a prefeitura é de quem finalmente, de todos nós,ou do prefeito que fora eleito por todos para nos representar? 

Na minha opinião, um gestor jamais deve desacatar a opinião popular, muito menos quando se trata de orçamento municipal, dinheiro oriundo de impostos que pagamos.

domingo, 14 de agosto de 2011






EFEITO DOMINÓ, CUIDADO...


Fonte: Ivan Cabral ( Chargista )

Folha leva 12 dias para desmentir notícia



Ou o jornalismo da Folha é o mais lento do planeta, ou agiu deliberadamente ao ocultar de seus leitores, por quase duas semanas, que não era verdadeira a informação publicada na primeira página de que o comandante do Exército, general Enzo Peri, estava sendo investigado pelo Ministério Público Militar.

Por Tijolaço


A matéria publicada domingo, 31 de julho, afirmava isso de forma peremptória. O Ministério Público Militar negou a informação em nota datada do dia 1º de agosto.

Só hoje a Folha publicou essa negativa. E tem toda a pinta de que o fez por notificação judicial, embora diga o que a nota não diz: que o general Peri não está sendo investigado porque não é competência do MPM investigar o comandante da Força, mas do Procurador Geral da República, que é quem nomeia o Procurador- Geral de Jutiça Militar.

A nota não diz isso: diz que ele “não é alvo de investigação” do Ministério Público Militar, “até porque o Procurador-Geral de Justiça Militar não dispõe de atribuição para tal".

Seria bom que a Folha, que publicou tantas matérias dizendo que a nomeação do Embaixador Celso Amorim estaria insatisfazendo os militares, explicasse a seus leitores porque levou 12 dias para publicar um desmentido de uma informação muito grave que ela divulgou, atribuindo aos procuradores e que foi por eles desmentida de pronto.

Ou, para usar a linguagem do meio militar, explicar a sua inexplicável procastinação.

Fonte: vermelho.org.br

Marco Albertim: Perfil de família

Nunca imaginara seus ossos numa parede de igreja, o nome grafado numa campa de mármore, data de nascimento, de morte; só o nome evocando a voz rouca dos reproches. Chamavam-no Maninho, sinônimo inapropriado a ele. Era temido. Calmo, juntava todos em volta para ouvir sua voz lesionada pela ternura. 


Por Marco Albertim

Não soube ser gentil, não aprendera a rir, fazia mimos poucas vezes no ano, só porque mimo era carícia. Sentia-se feliz, calado, espiando a própria sombra, os dedos da mão engelhada no copo meio de conhaque. O enredo de seu passado era uma trama de orgulhos, de remorsos.

Na cabeceira da mesa, com um olho na comida, outro nos modos dos outros, vigiava cada pedaço do leitão sendo fatiado, levado para os pratos. Nutria a mesa com gorduras, massas. Dinheiro calculado, venerava-se na generosidade da feira abundante. A receita de cada prato, guardava-a na memória, com zelo, para comer como um dissoluto. A respiração fungante, bovina, espalhando os raios de sua autoridade, misturava-se à trituração da comida na boca. Queria todos fartos, a empregada também, mas destripando cada pedaço sem romper a cerimônia, a regra que herdara do pai austero. A manteiga, na manteigueira redonda, devia ser desbastada em porções verticais, de modo a medir a progressão do consumo; um terço, dois terços... Os filhos e a mulher distraíam-se com a simetria, após cada um tirar sua porção.

Antes de pegar no sono, sem avisar à mulher, levantava-se. Ela sabia, ele ia à cozinha certificar-se de que os petrechos estavam todos - sequer uma colherinha poderia extraviar-se - na gaveta. Olhava para o chão, com os óculos, distinguindo um fio de cabelo na cerâmica de azulejo; apanhava-o com o apontador, o polegar, depositava-o na lixeira sob a pia. Depois, fazia ostensiva ronda nos quartos. Os filhos fechavam a porta apenas com a maçaneta; ele abria todas, uma de cada vez, rangendo os trincos, acordando um ou outro. Não era um morto a fome, mas engendrava as despesas de modo a evitar uma tragédia no fim de cada mês. Se alguém dormisse com a televisão ligada, fazia um escarcéu; se a mesma falta ocorresse em mais de um aposento, suspeitava de um motim.

Uma vez chegou em casa no fim da tarde, começo da noite. O filho mais velho chegara, supondo que o pai viria mais tarde, porquanto na sexta-feira ele tomava uma dose de conhaque a mais, uma ou duas. O rapaz, destrambelhado, não encontrara ninguém em casa; tirou a roupa no corredor, deixou a cueca sobre o telefone, ao lado de uma bíblia que ninguém lia, grande, de bordas cingidas em ouro, vaidade e orgulho do pai. Ele interrogou todos os filhos até descobrir o autor do desleixo.

- Insânia! – gritou.

A palavra foi eleita para justificar o despotismo doméstico, agravado com a indignação de ver as escrituras sob o fedor de urina. O filho foi expulso de casa, abastardado. Passou dois meses na casa do tio, irmão do pai. Arrependeu-se e não sentiu remorsos quanto à bíblia; tanto ele quanto o pai nunca foram atentos a maçadas de padres. Arrependeu-se absorvendo a noção de decoração doméstica, sem lugar para leituras de qualquer dos Testamentos, mas zelosa da lombada em ouropel sobre a escrivaninha de mogno polido. Ultrajara o décor do santuário, um santuário sem rezas; ainda assim, que horror!

Voltou para casa; voltou aconselhado pelo tio, por ter sabido que a bílis do pai entrara em maré vazante. Não se cumprimentaram, trocaram um muxoxo de estima, de desdém; só por terem que falar, a bem do decoro familiar.

Tinha pesadelos, Maninho. Passados trinta anos do suicídio de Getúlio, não se conformava com a perda do caudilho. Nas sextas-feiras, no boteco próximo a casa, bebia além da conta, bebia como se tivesse um alvará para beber. Conversava sobre política com humor escasso, feito um advogado de causa perdida. Chegando a casa não comia, escovava os dentes para, duas horas depois, no sono, repetir do início à ponta a carta-testamento deixada por Getúlio. A mulher o acordava; queria dormir; queria dormir e tinha medo que ele, de repente, morresse apoplético. Acendia a luz do abajur, e distinguia raios sanguíneos no rosto do marido, a cada inflexão de certeza na carta. Acordava-o para que bebesse uma porção d’água com açúcar. Ele não perguntava o motivo, bebia porque se acostumara, tinha certeza de que a parceira de mais de trinta anos, não poria arsênico no copo. Com o tempo, não mais o acordou; passou a mudar de aposento no início da peroração. Sozinha numa cama de solteiro, pensava na voz cava do marido querendo tirar Getúlio da sepultura; descobriu sem querer que também retivera na memória a íntegra da carta. Resolveu voltar ao aposento marital, sem se surpreender com a variação de cada modulação. Quando ele chegava ao meio, sentia meio alívio; quando se aproximava do fim, pensava: “Faltam duas orações para ele enterrar Getúlio de vez.” Dormiam então em paz com os deveres conjugais.

Com os deveres e a cisma às primeiras horas do dia, principalmente ele, que reiniciava a incursão em cada quarto. Entrava no primeiro como um inspetor em dormitório de alunos internos; os passos no mesmo ritmo, estapeando a sola de cada pé no chinelo de couro. Inda que não entrasse para uma ronda minuciosa, espichava o pescoço, estendia a cabeça para dentro, fungando – o vício do cigarro obstruíra a respiração nas narinas -, deixando o próprio cheiro morrinhento. Tão forte o cheiro que se desprendia de sua respiração, de seus poros, que logo os filhos remexiam-se na cama, esfregando os olhos para se dar conta de que suas vidas mantinham-se reféns da canga do pai. Podia ouvir um grunhido de queixa, mas só estrugia a autoridade se ouvisse um protesto sonoro.
No segundo aposento, sem atenuar o passo, deparava o resto dos filhos já à espreita de sua ronda. Abria a porta devagar, mesmo não evitando o rangido da maçaneta. Encontrava mais dois filhos subjugados, tementes de seu zelo policial. Via-os de olhos semiabertos, espiando os minutos para dar o pinote da cama. Acontecia raramente de um ou outro permanecer deitado além da hora. Maninho voltava para os fundos da casa, para o aposento do filho desatento.

- Vai passar o dia inteiro na cama!?

As sílabas sonoras, com aparente paciência didática, destilando uma gramática biliosa. As paredes duras, frias, apropriavam-se do significado de cada fonema. Os filhos as odiavam, omitiam-nas do vocabulário de rotina.

Assim educou os filhos, sob o olhar impotente da mulher.

- Venâncio! – chamou o mais velho com o mesmo orgulho da escolha do nome na pia de batismo - Está na hora. Vá à escola buscar seu irmão.

O mais velho tinha 24 anos, vivia à custa do pai. Sabia que todo fim de tarde teria que buscar o irmão caçula na escola. Por ser o mais velho, odiava a atribuição; odiava sem queixa, débil, um ódio tênue e suficiente para sentir-se ridículo; do mesmo modo como o pai se sentira às ordens do pai, seu avô.

- Estou indo!

O pai mirava-o por cima dos óculos, a cabeça inclinada, o corpo sobre a funda poltrona de couro.

De volta, com o irmão inteiro, a tagarelice infante por toda a casa, Venâncio percebia na juntura dos lábios do pai, a satisfação risonha por ter expiado, Venâncio, uma falta desconhecida de seu próprio juízo. Ao fim de cada incidente, Venâncio entrevia um remate feliz, de mútua paga; sentia-se, no entanto, como o apostador cuja espera de riqueza se desfaz com o anúncio do resultado adverso.

Arranjou trabalho, Venâncio. Vestiu-se de paletó e gravata para vender apartamentos a famílias de pouca posse. A primeira ocupação a lhe trazer dinheiro, um dinheiro curto, bastante para bancar alguma fanfarrice. Conseguiu a ocupação depois de o pai ter pago seu tratamento dentário; limpou a boca e ouviu o que não queria.

O primeiro dinheiro que pôs no bolso não lhe deu poder para bater com os talheres, antes de destrinchar uma fatia do leitão sobre a mesa. A curta comissão o vexou. O pai sabia de seu pouco ganho, julgava-o endinheirado para desobrigar-se de dispêndios extras. À noite, com os amigos no bar, pabulava os ganhos do filho sem mencionar cifras, com suposições. O rapaz saía às manhãs com apuro nas roupas, janota de primeiro emprego.

- E o rapaz, como vai no trabalho?

- Não me diz nada, é dono de seu nariz – respondia, empinando o nariz.

- Já fala em casamento?

- Não tem idade ainda – dispunha-se a confessar a grana curta no bolso do filho, a admitir a ameaça de uma nora dentro de casa.

Venâncio deu mostras de vaidade, desjeitoso, com os votos de boa sorte, embora sem sorte. Teve a ventura de ser aceito entre os amigos do pai, experimentar não o conhaque, mas uma cerveja promitente. Começou a acreditar que, logo, talvez no próximo lance de venda, a comissão aumentaria; não aumentou. Pior: os colegas, com frequência, travaram com ele troca de caçoadas por causa do único paletó que usou em uma semana, quinze dias. A zombaria desceu o elevador, foi ao botequim, ganhou o trecho da Praça Maciel Pinheiro, onde ficava o escritório. A gabardine azul-escuro adquiriu nuança fúnebre. Logo nutriu, ele, rancor à roupa. O terno fora içado em seu peito, a partir do guarda-roupa do pai, encafuado ali desde a aposentadoria. A mulher o apreciara no começo, depois o esquecera. Agora, removido o mofo, sob o ferro de engomar, julgou a roupa com o fulgor de antes. Venâncio creu na madrasta. Depois das zombarias, queria incinerá-lo na Maciel Pinheiro, num tonel aberto, misturado a pedras de enxofre; queria assim porque o boteco onde o pai pabulava o apoio que lhe dera, ficava em frente.

Não teve coragem. Devolveu a roupa sem dizer uma palavra, depois de pedir baixa do emprego que só lhe dera amolação, e um déficit no bolso de um dinheiro que emprestara a um de seus detratores.

O pai entreviu a ameaça de outra vez ter que custear a rotina do filho. Não lhe disse nada. Recebeu a gabardine com frieza, olhando-o quando ele virou-se para o corredor rumo ao aposento. A roupa não lhe serviria também. Podia dar a um pobre em memória de Getúlio, mas não convinha contrariar a sovinice.

Noites, dias se passaram sem que despertassem interesse em Venâncio. O pai lia os jornais todas as manhãs. Não dizia que tinha recursos aplicados; confessava, suscitando suspeitas, acompanhar as oscilações da Bolsa; confessava para manter a pose das pernas cruzadas sobre o pufe à frente do sofá. Desconfiava que o tinham como mesquinho, e repetia que fazia campanha contra a esbórnia em família.

O filho aproveitou o que restara do único ganho para comprar livros; comprou romances, poesias. Leu sobre a vida de amantes, mulheres gentis, fogosas. Fantasiou a mente com galanteios polidos, o contrário do que ouvira de corretores corrutos. Lia como um recluso na cela. Desligava o televisor e acendia a luz do abajur. O pai inquiriu a mulher sobre o retraimento de Venâncio.

- Não tem o que fazer. Procura se distrair com a leitura.

- Devia ir à rua, procurar trabalho.

- Ele diz que olha nos classificados e não encontra nada parecido com o que quer fazer.

- Deitado com um livro no peito, que vocação pode ter!?

- Não diz com medo de ouvir censuras ou que riam dele. Mas disse ao irmão que quer ser escritor. Viver para ser escritor.

- Não está vivendo. Até o cabelo ele esquece de cortar. Em cima daquela cama!...

Dormindo tarde, Venâncio esquecia a hora de se levantar, faltando à mesa no café da manhã. Maninho não gostou de comer a primeira refeição, junto com a mulher, os filhos menores, sem o primogênito.

- Assim não é possível! – gritou. - Vou dizer a ele agora que mesmo em hospedaria tem horário para comer!

- Já estou de pé – Venâncio surgira com os olhos inchados do sono recém-findo.
- O café está frio. Sente-se.

A refeição correu muda, arrastou-se. O rapaz tinha fome; enquanto comeu o cuscuz, nenhum ruído se ouviu de seus dentes. Comeu com os olhos no prato, no garfo; com os sentidos no romance que deixara na mesa de cabeceira. Terminou o cuscuz. Em vez de pão, viu um monte de bolachas na pãozeira, bolachas graúdas. Tirou uma porção, pôs no prato de sobremesa sob a xícara; besuntou uma por uma de manteiga, descuidando do corte vertical da faca na manteigueira. O pai observou cada gesto do filho, a retina movendo-se para a frente, para o lado. Quando ouviu as bolachas se dilacerando na boca aberta de Venâncio, estourou:

- Deixou de comer com a boca fechada? Onde tem a cabeça? Deixou no travesseiro, no livro que está lendo. Acorda, rapaz. O sol já entrou pela janela, não está vendo? Precisa trabalhar. Anda com a cabeça cheia de minhoca doida!

- Desculpe.

- Não tem que pedir desculpa, tem que se mover, tomar banho de sol numa fila de candidatos a algum trabalho. Até de gari, mas tem que se mover. Não espere pelo inverno. Vai criar mofo antes da chuva cair.

- Não há vagas, como pode haver filas?

- Conversa de quem não quer trabalhar. Há vagas, sim. Meta a cara por aí e vai encontrar trabalho. Como todo mundo faz.

- Não sou todo mundo.

- Todo mundo precisa trabalhar, inclusive você. Vai chegar aos trinta anos deitado naquela cama, pensando num final feliz entre Tristão e Isolda?

- Está delirando, pai. São oito horas da manhã. Conhaque só daqui a doze horas, na esquina.

- Vê como fala, rapaz, vê como fala!

- Ainda hoje vou ao boteco do Manuel ver o conhaque descer na sua garganta. Não vejo a hora. É o único momento de paz que esta casa tem.

- Está faltando com respeito, o moleque!

- Respeito seus costumes, pai. Tenho todos de cor. Todos nesta casa têm seus costumes de cor e respeitam.

- Vou cortar a sua língua! – Maninho tinha na mão a serra de cortar pão, com a ponta para baixo.

Venâncio levantou-se rápido, deixando metade das bolachas. A mulher gritou. O telefone tocou cinco minutos depois; era a vizinha, amiga da mulher, oferecendo camomila.

- Não precisa, Olívia. Maninho já está calmo, já estamos calmos.

- O rapaz passou por aqui correndo, tinha brasa no rosto!

- Também já deve estar calmo. Logo volta pra casa. É apenas nervoso, mas não de fazer loucura.

Voltou para a casa à noite, tarde, contrariando o costume. Não queria encontrar o pai soprando bafos de conhaque. Sabia que só de olhar as paredes da sala, o pai desataria outro rompante. Entrou no quarto; olhou com pena o romance porque ainda não recuperara raciocínio para entender o enredo. Trocou duas palavras com o irmão, olhou a televisão sem achar graça. O irmão quis saber onde andara

- Por aí, dando marradas.

- O velho não chegou ainda.

- Pego no sono antes que ele chegue.

Maninho chegou tarde, bem tarde. Também não queria reencontrar o filho, não naquela noite. Ainda zurziam nos ouvidos as bolachas mastigadas por Venâncio. “Diabo! Malcriadez da idade! Quizila de filho contra pai, pior que pedra no sapato.” O sapato nunca incomodara o pé. Agora lhe doía a cabeça, no gozo da aposentadoria. A quem saíra o rapaz? A si mesmo. Quando filho, temera o catarro nos brônquios do pai, a voz rouca. Há semanas não repetia a carta-testamento de Getúlio, assuntando com a alma do pai noutro pesadelo.
Na incursão aos quartos, não encontrou televisão ligada. Toda a casa estava de sobreaviso. Ouviu um rádio a pilhas soltando grunhidos, ao lado do travesseiro do filho menor. Jogo do Sport. Venâncio era indiferente ao rubro-negro, frequentara o clube poucas vezes, junto com o irmão, sócio. Ele, Maninho, conselheiro, orgulhoso conselheiro. Venâncio trocara conversa com outros conselheiros, gordos e sanguíneos; depois safou-se dali sem nada dizer. O pai julgou-se desfeiteado.

Depois da ronda, pensou na carta-testamento. Getúlio era o único espectro que não o assustava, seguindo-o com a graça do charuto na boca. Por causa do conhaque, interrompia o sono. Catou na memória o discurso de Goulart na Central do Brasil; se estivesse dormindo, por certo teria um pesadelo.

Maninho não desconfiava que sua memória, cavoucando cenas refugadas, pedia auxílio para não enguiçar de vez.

Venâncio desenguiçou o costume de ler noite adentro. As brigas com o pai tornaram-se frequentes, por não cumprir o horário do café da manhã. Era o último a sentar à mesa, na frente da única xícara que sobrava depois de todos comerem. Maninho, sentado no sofá, lendo o jornal, espiando as oscilações da Bolsa.

- Ah... Bom... Ah... Bah!...

A casa na rua Manoel Borba sofreu outra comoção, quando Venâncio, entediado com o hábito da leitura sem conversar com a personagem, resolveu fazer ronda peregrina nos botecos do Pátio de Santa Cruz. Tomou duas cervejas, sentiu-se encorajado para um gole adulto; experimentou, então, cachaça com infusão de vermute; achou doce, fácil de emborcar. Conversou com os recém-conhecidos, bêbados velhos. Logo fez amizade com uma crioula que sorria com seus goles adolescentes. Ofereceu-lhe a bebida. Ela aceitou, pediu-lhe cigarro. Ele não fumava, pediu um maço de Hollywood ao despachante do balcão. A mulher guardou os cigarros sob a blusa, no sutiã. Chamou-a para dançar. Foram a uma churrascaria na sobreloja de um prédio da rua Barão de São Borja. Dançaram, trocaram beijos, tomaram chopes. Pagou a conta. Foram para um motel ali mesmo, perto, com letreiro luminoso, quartos separados por tabiques. Dormiram. A crioula, experiente, dormiu com um olho aberto, outro fechado; levantou primeiro, e com os dedos das carícias, tirou da carteira dele documentos e dinheiro. Desceu os degraus do escuro corredor, e sumiu em algum beco rumo aos Coelhos.

Foi para casa a pé; chegou vítima da puta para tornar-se refém do pai. Ouviu o que pressentira, cobras e camaleões. “Malandro!” Como se julgar malandro se não conhecia o tranco de qualquer ofício!? Comeu na cozinha um rango improvisado, foi dormir, deitar-se para esconjurar a ressaca, os insultos do pai.

Uma semana depois, alguém telefonou. Um desconhecido achara seus documentos de identidade, no jardim de casa, na rua José de Alencar. A puta, de posse da pouca merreca, tivera pena dele. Devolveu-lhe os documentos para que tivesse chance de se recuperar da falência. O desconhecido, com o nome, consultara a lista de telefones; falou com Maninho, disse que alguém com seu nome extraviara a identidade.

Quando Venâncio agradeceu, o homem lhe mostrou um cartão de visitas. Profissão: corretor de imóveis – Calheiros Empreendimentos Imobiliários. “Caramba!” A imobiliária onde trabalhara. O corretor morava numa casa bonita, com dois pavimentos, sacada florida para a rua. Era gerente de vendas. Venâncio, desde que deixara o trabalho, abominava o jargão de corretores. Apertou a mão do homem, pôs o cartão no bolso, prometeu recomendá-lo a seu pai.

- Obrigado! Não vou comprar imóvel, mas meu pai, talvez...

- Tem o meu telefone, faça o favor.

- Não vou esquecer.

Saiu dali com remorsos por ter cometido perjúrio; inda por cima tornando o pai comprador revel. Maninho jamais sairia da casa velha da rua Manoel Borba, a não ser levado pelo rabecão.

Procurou uma lata vazia para chutar, arremessar longe os agouros. Carros, ônibus, buzinas, tudo esconjurando-lhe a paciência.

Em casa, a madrasta deu-lhe a notícia. A velha casa da Manoel Borba mudaria a rotina para assistir à agonia de morte de seu chefe. Maninho, no jantar, só tivera tempo de engolir a primeira colherada de sopa. Queixou-se de dor de cabeça, foi para o sofá. A mulher preparou-lhe um chá, unguento de sua confiança. A casa ficou estranhamente muda. Não houve ronda nos aposentos. Venâncio retomou a leitura.

Maninho recolheu-se cedo. De madrugada, repetiu a carta-testamento até o meio. A mulher estranhou. Acendeu a luz, viu o rosto do marido riscado de estrias sanguíneas; gritou, acordou todos. O marido foi levado de ambulância ao hospital. Morreu uma semana depois, sem nada dizer, apoplético, sem se lembrar do resto da carta. Morreu com o pesar de todos, inclusive de Venâncio.

A viúva insistiu que Venâncio usasse o terno de gabardine no velório. Ele não quis, saiu de perto do agouro.

Seis meses depois, os ossos de Maninho foram depositados na gaveta da parede de uma capela carmelita. Ali, comungara um tempo, depois perdera o costume. A viúva pagou bem ao frade que jogou água benta na campa.

Fonte: vermelho.org.br

Brasil depende da China para evitar crise

Sem o ‘efeito China’, superávit da balança se transformaria em déficit e saldo negativo da conta corrente saltaria de 2% para 4% do PIB


No mercado financeiro, o Brasil é considerado hoje um "derivativo" da China. Derivativos são contratos cujos preços dependem da cotação de outro ativo. "A performance do mercado brasileiro é muito ligada à China. O Brasil tem o ônus e o bônus dessa relação", diz Ricardo Lacerda, presidente da BR Partners, uma das principais empresas de fusões e aquisições do País.

Dependência

Traduzindo para a economia real: se a crise nos Estados Unidos e na Europa atingir a China, o Brasil será castigado. A percepção dos investidores vem do aumento da dependência do país em relação ao gigante asiático depois da quebra do Lehman Brothers em 2008. O apetite chinês garantiu a alta das commodities em meio à recessão global, reduzindo a vulnerabilidade externa brasileira.

Nos 12 meses até junho, o Brasil teve déficit em conta corrente (inclui todas as transações com exterior) de US$ 49 bilhões, ou 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Sem o "efeito China" da alta das commodities, o superávit comercial se transformaria em déficit e o saldo negativo da conta corrente chegaria a US$ 89 bilhões, ou 4% do PIB, revela cálculo da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Ponto mais crucial


É por isso que a economia chinesa está no radar do governo. Segundo uma fonte do Ministério da Fazenda, o Brasil tem um mercado interno robusto, o que limita o contágio externo, mas a situação asiática é seguida com lupa. "A China é o ponto mais crucial, porque afetaria a economia real imediatamente", disse o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, esta semana em Brasília.

Nos últimos três anos, a China se consolidou como o maior parceiro comercial do Brasil e anunciou investimentos bilionários no País. Para driblar o real forte, a indústria brasileira compra mais insumos na China. "A dependência dos fornecedores chineses cresceu. Se a crise piorar e secar o crédito para a importação, a indústria para. Estamos mais vulneráveis", disse José Roberto Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Associados.

Cliente preferencial

Em 2008, a China absorvia 6,7% das vendas externas do País. No primeiro semestre deste ano, representou 17%. "A demanda dos países ricos caiu, enquanto a China continuou a consumir ", explica Mônica de Bollle, sócia da Galanto Consultoria. Em 2008, a Vale vendia 28% do seu minério de ferro para a China. No segundo trimestre deste ano, destinou aos chineses 41,9% do total.

O apetite chinês baliza os preços das commodities, que representam quase 70% do que o Brasil vende no exterior, conforme cálculo da Rede Agro. A alta das commodities pós-2008 proporcionou termos de troca recordes para o Brasil, variável que compara preços de produtos exportados e importados.

Torcer pela China


"É um ganho de renda para o País, que pode importar mais com a mesma quantidade de exportação", diz José Júlio Senna, sócio-diretor da MCM Consultores.

Até agora o Brasil colheu o bônus da relação com a China, mas se o país asiático sucumbir à crise pode ser a hora do ônus. Os especialistas esperam uma desaceleração gradual da China e manutenção de demanda forte por commodities. Mas, se a situação piorar, o efeito para o Brasil seria em cascata: commodities em queda, menos exportação, mais déficit em conta corrente, queda do real e inflação.

Para Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex, essa "catástrofe" reduziria a capacidade do governo de reagir à crise com corte de juros ou estímulos fiscais. "É o dilema que o governo Dilma quer evitar: perder o controle da inflação ou deixar o País entrar em recessão?", questionou. Só resta torcer pela China.

Fonte: vermelho.org.br

Paraguai e Irã decidem fortalecer e incrementar relações

O Paraguai e a República Islâmica do Irã decidiram incrementar suas relações bilaterais em todos os domínios e manter um diálogo produtivo.


Foi o que expressou na última sexta-feira (12) em Assunção o vice-chanceler da nação persa para a Europa e a América Latina, Ali Ahani, em um encontro mantido com o presidente do Congresso paraguaio, Jorge Oviedo.

Em declarações aos meios de comunicação, o diplomata iraniano expressou que "é absolutamente necessário, importante e útil o apoio dos parlamentos com respeito ao incremento e desenvolvimento das relações bilaterais".

Senti-me muito bem recebido e fiquei contente com a recepção do parlamento e sua posição com respeito ao incremento das relações bilaterais, expressou o diplomata.

O vice-chanceler iraniano no sábado (13) também pelo chanceler, Jorge Lara, na sede do Ministério de Relações Exteriores.

Acompanhou o diplomata iraniano o embaixador do Irã no Uruguai e Paraguai, Hojjatollah Soltani.

Esta visita inscreve-se no giro que Ahani realiza por vários países da região para ampliar e aprofundar as relações entre Teerã e os Estados sul-americanos.

Fonte: vermelho.org.br

Fernando Morais lança livro sobre os cinco patriotas de Cuba

Dedicado aos cinco cubanos presos nos Estados Unidos, o livro Os últimos soldados da Guerra Fria, do escritor brasileiro Fernando Morais, será lançado no dia 23 de agosto em São Paulo, pela Editora Companhia das Letras.


Companhia das Letras
  Os últimos soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais, conta a história dos agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita nos Estados Unidos.
 

“Organizações criminosas internacionais, aventuras de capa e espada, disfarces perfeitos, emissários secretos, conquistas: o novo livro de Fernando Morais traz todos os elementos de suspense de uma novela de espionagem”, diz a nota de lançamento da editora.

Contudo, a nova obra de Morais, autor também do célebre romance Olga, não contém uma só gota de ficção. “A partir da saga da Rede Avispa, um seleto grupo de agentes secretos cubanos que se infiltraram em organizações anticastristas em Miami, o autor nos leva a um incrível mundo de James Bond tropicais, em que a diferença para o agente secreto inglês é a profunda escassez de recursos – técnicos e financeiros – para a realização de um trabalho perigoso e solitário.”

O autor Fernando Morais fala sobre a história contada pelo livro:

A orelha do livro acrescenta que “a razão desta operação era coletar informação com o fim de prevenir ataques terroristas em território cubano. De fato, algumas destas organizações apresentadas como ‘humanitárias’ participam de ações como enviar pragas contra cultivos na ilha, interferir nas transmissões da torre de controle do aeroporto de Havana, realizar atentados com bombas nos melhores hotéis do país e inclusive disparar tiros de metralhadoras contra navios de passageiros cubanos e turistas estrangeiros”.

Os últimos soldados da Guerra Fria, diz a editora, conta a incrível aventura desses agentes cubanos em território estadunidense e revela os tentáculos de uma rede terrorista com base na Flórida e células na América Central, que recebe apoio tácito de congressistas norte-americanos e a omissão de membros dos poderes Executivo e Judiciário dos Estados Unidos.

“Ao escrever uma história cheia de aventuras dignas dos melhores romances de espionagem, Fernando Morais mostra mais uma vez sua forma de fazer jornalismo de qualidade, com rigor investigativo, imparcialidade e uma narrativa literária sofisticada”, diz a Companhia das Letras.

Fernando Morais (Mariana, Minas Gerais, 1946) é jornalista e trabalhou no Jornal da Tarde, na revista Veja e em várias outras publicações da imprensa brasileira. Recebeu três vezes o Prêmio Esso e quatro vezes o Prêmio Abril de Jornalismo. Publicou, com a Companhia das Letras: Olga; Chatô: Rei do Brasil; Corações Sujos, A Ilha e Cem quilos de Ouro, e, com a editora Planeta, O Mago, Montenegro, e Na Toca dos Leões.


Fonte: vermelho.org.br

Guerrilha colombiana reitera disposição para o diálogo


As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) ratificaram sua vontade política para dar os passos necessários em um eventual processo de paz, que ponha fim ao conflito armado interno.

Em comunicado dirigido aos participantes de um encontro nacional pela paz, divulgado neste domingo (14), as FARC afirmam que estão dispostas a explorar o caminho do diálogo com o atual governo.

"Manifestamos diante de vocês nossa vontade política para no prazo mais imediato, dar os passos no sentido de criar o cenário propício a iniciar o diálogo", sublinha a mensagem assinada pelo Secretariado Nacional do grupo insurgente.

Isto, segundo explicam as FARC, sob o único condicionamento de encontrar os caminhos que permitam criar um ambiente para as profundas reformas econômicas, sociais e políticas que garantam a paz com justiça social.

A guerrilha pede que o processo seja acompanhado por todos os setores representativos do povo colombiano e pela comunidade internacional disposta a participar.

A iniciativa é uma resposta aos chamados a buscar uma saída distinta à guerra e diante da disposição manifestada pelo presidente Juan Manuel Santos para explorar esse caminho.

Por outro lado, as FARC recordam que participaram em vários cenários de diálogo com distintos governos, mas os setores do poder determinaram prolongar a existência do conflito social e armado com todas as suas calamidades.

Somente a mobilização das forças sociais abrirá o caminho para a reconstrução e a reconciliação nacional para iniciar a concertação de acordos humanitários que resolvam o drama dos prisioneiros de ambas as partes, afirmam os guerrilheiros.

Igualmente, sustentam que inegavelmente e por cima de qualquer alarido da mídia para ocultar esta realidade, seguirá seu caminho enquanto a confrontação armada se mantenha.

O texto conclui dizendo que as FARC continuam reiterando seus votos para que o referido encontro ajude a abrir os caminhos esperançosos da paz.

O comunicado da guerrilha foi dado a conhecer no Encontro Nacional de Comunidades Camponesas, Afrodescendentes e Indígenas pela Terra e a Paz da Colômbia: O Diálogo é o Caminho.

O encontro, que prosseguirá até a segunda-feira (15) tem lugar em Barrancabermeja (Santander) e reúne milhares de pessoas convocadas por várias organizações sociais e não governamentais a fim de abrir o caminho para a paz no país.

Fonte: vermelho.org.br

domingo, 7 de agosto de 2011

CHARGE...

Demissão de Jobim: antes tarde do que nunca

Finalmente, Nelson Jobim foi demitido do Ministério da Defesa. O episódio derradeiro da sua presença no governo foram novas declarações desastradas e provocadoras, em que achincalha o desempenho de duas ministras do núcleo político do governo, precisamente aquelas que a presidente nomeou em junho último, numa trabalhosa reorganização da equipe ministerial após a queda de Antonio Palocci da Casa Civil.

A defenestração de Jobim já era esperada e mesmo reivindicada ao menos pelas forças progressistas que apoiam o governo Dilma, como apoiaram o de Lula, na expectativa de que se realizem mudanças de fundo no país no sentido da ampliação da democracia, da defesa da soberania nacional e na promoção da justiça social.

Nelson Jobim foi um fiel servidor do governo neoliberal e conservador do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o indicou depois para o Supremo Tribunal Federal.

Em 2007, num ambiente de insegurança e comoção nacional criado por dois desastres aéreos e pelo caos na aviação civil, que no Brasil está sob comando militar, e em meio a uma campanha de desmoralização do então ministro da Defesa, instrumentalizada pela mídia e por setores oportunistas dentro do próprio governo, Lula nomeou Jobim para a pasta, que a assumiu com teatralidade e histrionismo. Tendo percorrido longa trajetória como civil, ex-deputado, ex-ministro da Justiça, ex-integrante da Suprema Corte, assumiu ares de caricata figura em trajes de caserna e campanha.

À frente de uma área sensível, pois o militarismo nunca foi extirpado da vida republicana brasileira, mesmo depois de decorrido mais de um quarto de século desde o fim da ditadura militar, Jobim incompatibilizou-se com o sentimento e as aspirações democráticas das forças progressistas, ao assumir, dentro do governo, o papel de principal ponta de lança dos militares para inviabilizar a revisão da Lei de Anistia, que permitiria a punição de sicários, assassinos e torturadores. O ex-ministro também fez o que pôde para dificultar a instalação de uma autêntica Comissão da Verdade, instrumento indispensável para promover reparações e a justiça em relação aos crimes cometidos durante os chamados anos de chumbo. Os seus despautérios foram de tal ordem, que chegou a fazer declarações em que era indisfarçável o sentimento de regozijo pela destruição de documentos que revelariam crimes da ditadura.

Ultimamente, Jobim pavimentou o caminho que levou à sua demissão fazendo afirmações que atestam sua condição de estranho no ninho num governo que tem no horizonte as transformações políticas e sociais. Fez juras de amor a FHC, em cuja festa de aniversário aludiu ao estilo supostamente suave do ex-presidente, em contraste com uma propalada conduta reprovável da atual mandatária no trato com auxiliares. E ainda fez cavilosas afirmações sobre “idiotas” que teriam perdido a “modéstia”, irritando setores do petismo, pois a interpretação que ficou no ar era que ele aludia a quadros do partido de Lula e Dilma. Para cumular a sua opção pela demarcação de campos com as forças progressistas, fez ruidosas afirmações de que votou em José Serra na última disputa eleitoral, em que o ex-governador de São Paulo foi derrotado por Dilma Rousseff. O menoscabo com as ministras Gleisi Hoffman e Ideli Salvatti revelado na última quinta-feira foi, assim, uma gota d’água para a saída de Jobim do governo.

Há um tom geral de lamento da mídia em relação à demissão de Nelson Jobim. “Bom ministro”, “botou a casa em ordem”, “o verdadeiro ministro da Defesa”, teria sido “traído” pelo “temperamento” e por ter “tropeçado nas palavras”. Estas são as primeiras abordagens vindas a público nos panfletos televisivos, radiofônicos e nas páginas impressas dos jornalões.

Nelson Jobim no ministério era um dos bolsões de conservadorismo no seio de um governo que lida com imensas pressões e ainda é tímido na realização das mudanças necessárias para o avanço democrático e progressista do país. Sua demissão, embora tardia, é salutar e a nomeação do ex-chanceler Celso Amorim como seu substituto é uma boa notícia. 

Fonte: vermelho.org.br

Ataque aéreo da Otan faz novas vítimas civis no Afeganistão

Uma incursão aérea da Otan no Afeganistão provocou a morte de vários civis na província meridional de Helmand, um reduto dos talibãs, anunciaram neste sábado (6) as autoridades locais.


"Vários civis morreram em uma operação aérea da Otan", declarou à AFP Daud Ahmadi, porta-voz das autoridades provinciais.

O governador do distrito de Nad Ali, onde aconteceu o ataque, afirmou que oito civis morreram no ataque.

A Otan admitiu ter disparado contra insurgentes na região e afirmou ter sido informada que, possivelmente, civis capturados por talibãs também estavam na zona.

O conflito no Afeganistão provocou a morte de mais de 1.400 civis durante os seis primeiros meses de 2011, número 15% maior que o do primeiro semestre de 2010, segundo a Missão da ONU no Afeganistão (Unama).


Fonte: vermelho.org.br

Urariano Mota: primeiro de abril de 1964

Para ser exato, Ivan, Ivanovitch Correia da Silva, não morreu em 31 de março de 64. Foi no dia seguinte, foi no 1º de abril de 64 que ele abandonou o seu espírito. Para ser mais exato, ele não o abandonou. Ele foi abandonado, porque já antes Ivan perdera a vontade, e perder a vontade, parece, é o anúncio primeiro da morte. Digo, corrigindo: já antes de deixar de existir, Ivan já não mais existia.

Por Urariano Mota


Quero ser exato, preciso, claro, mas o reino de que me acerco repele tais exatidões. O que vi naquela tarde não se pega como um cão se agarra e se pega, como um ave que seguramos entre os dedos, como uma pedra de gelo que sentimos e pegamos. Melhor então organizar Ivan à maneira do que organiza a memória, o sentimento, enfim, o espírito.

Ivan era grande, largo, testa ampla – estranho, agora eu sei, só agora compreendo, ao escrever estas linhas agora compreendo: Ivan era largo e grande como a minha mãe. Ele foi, ou ele era, o melhor amigo que pode ter um adolescente de 13 anos. Escrevo essa generalização e estaco. Estaco porque essa tentativa de ser objetivo, e imparcial, só me faz escrever burras generalidades. Quero dizer, portanto, e não serei mais falso: Ivan foi o melhor amigo que tive na altura dos meus 13 anos. Quero dizer, e não me interrompam a censura, o pudor e a covardia:

eu era um menino sem mãe, com um pai que seria melhor eu houvesse mandado antes para o inferno, e dentro de mim uma carência imensa de compreender o mundo, com uma vaidade louca que não tinha substância nem razões para se sustentar. Se me comparo mal, eu era um menininho sem pernas, que está sempre a sonhar com extraordinários saltos olímpicos. Com quê? Com os sonhos dos saltos que poderiam vir na modalidade de meninos-tronco que de repente ganhassem pernas. Ivan, que só agora compreendo guardava semelhanças com a minha mãe, não era um daqueles “meu tipo inesquecível” da tóxica revista Seleções.

Ele era o amigo mais velho, e isto quer dizer: ele está sobre a cama, no 1º de abril de 64, agitado, movendo-se de um lado para outro de seu leito de capim seco. E me diz, e geme:

- Tem umas cobrinhas subindo pelas minhas costas. - E bate com as mãos, para retirá-las. E mais se agita: - Eles vêm me pegar. Eles vão me levar.

- Eles quem, Ivan?

- Eles, eles – e eles se confundem às cobrinhas, que lhe sobem pelas costas.

Este Ivan não é Ivanovitch Correia da Silva. O Ivan de antes era um jovem de 19 anos, estudante de Química. Passava o dia todo a estudar, todos os dias. Com um método sui generis, como gostava de dizer. Entre uma fórmula e outra me recebia na única mesa da sua casa. E se punha a contar anedotas, a contar casos, de meninos suburbanos, espertos, anárquicos, galhofeiros.

E sorria, e ria, e gargalhava, porque ao contar ele era público e personagem, e de tanto narrar histórias de meninos moleques deixava na gente a impressão de ser um deles. Como um Chaplin que fosse Carlito. Se na vida da gente houver algo que nos perca, que mergulhe no abismo a natureza que já se acha perdida, ele contava, e contava a rir, a soltar altíssimas gargalhadas o caso que foi a sua perdição:

- Na greve dos estudantes de Direito, eu fui lá para prestar solidariedade aos colegas. Eu estava só no meio da massa, assistindo à manifestação. Aí chegou o fotógrafo da revista O Cruzeiro. Quando ele apontou o flash, eu me joguei na frente dos estudantes. Olha aqui a foto.

E mostrava uma página em que ele aparecia de braços abertos, destacado, em queda, como um jogador de futebol em um brilhante jogada, em vôo sobre as palavras de ordem, viva Cuba, yankees go home, reforma agrária na lei ou na marra. Sorrindo em queda livre o meu amigo, na página da revista O Cruzeiro.

Por isso ele gargalha, por sair em edição nacional, por força do seu espírito moleque. Por isso ele se diz, esta é a lógica, dias depois:

- Tem umas cobrinhas... Eles vêm me pegar!

O meu amigo da foto é quem me resolve problemas de matemática que não consigo resolver. Num deles, de fração, ele, esperto, me esclarece o que a ambigüidade do problema não deixava ver: existe uma fração da vara enterrada no leito do rio, o corpo dela não vai só até a parte submersa, o todo vai até abaixo da areia depositada sob a água. Bandidos, não deixaram claro, assim é fácil, eu lhe digo. E a minha revolta para ele é um justo motivo de gargalhada. Mas me consola:

- Na sua idade, eu também não resolvi esse problema.

Não sei se sou idealista, naquele mau sentido dos manuais simplificadores do marxismo, mas agora a distância eu percebo a dignificação que o espírito dá. O respeito que relações assim construídas funda. De passagem, lembro que fui amigo de indivíduos valentões, rápidos nos socos e de força, com quem jamais briguei. Ainda bem, claro. Mas o que eu destaco aqui é que não havia espaço entre nós para a troca de insultos.

Havia um respeito fundado nos objetivos a alcançar, ou melhor, a natureza das nossas relações não comportava um enfrentamento físico. Assim também com Ivan. Agora compreendo que em nossas relações ideais, ou idealizadas, ele me via como um menino precoce, como um menino de futuro.

Aqui cabe dizer o que era o futuro em nossa condição. Ele era um dos seis filhos de seu Joaquim-da-carne-de-porco. Seu Joaquim, para se dignificar, dizia-se marchante, mas apenas vendia carne de porco no mercado público de Água Fria. Simpatizante do velho Partidão, pusera nos quatro primeiros filhos nomes russos, porque à época a Rússia era a pátria da revolução. Eles se chamavam Pedro, Ivanovitch, Serguei, Andrei, Abrahão e Isaac.

Os dois últimos coincidiam com o declínio das convicções do velho comunista – ele passara da revolução na terra para a salvação da alma, embora continuasse a sobreviver da venda da carne de porco. Lembro que da sua casa, feia, sem janelas, com fachada de pobre ponto comercial, vinha um permanente cheiro de torresmo. Lembro do cheiro abusivo, enjoado, repugnante que dava aquela coisa gordurosa, fartura de uma coisa só. Entre as fumaças da casa e o box no mercado, seu Joaquim conservara do antigo ardor a fé, a paixão da crença no livro, a crença na educação. O estudo que levantaria as massas passou a civilizar pessoas. Daí que seus filhos teriam que ser gente, não simplesmente carne.

Naqueles anos de 63, 64, um menino de futuro, naquele cheiro ativo de toucinho torrado, era um menino que gostava de ler, de perguntar, de argumentar, apesar de a sua imagem física não se assemelhar a qualquer futuro. Assim ele era porque o futuro eram os livros, e nos livros, era inquestionável, estava a força que erguera um povo das trevas, do feudalismo. Havia então um respeito mítico, místico, pelos livros. De futuro, até antes do golpe do 1º de abril, era também Ivanovitch. Dos seis filhos de seu Joaquim ele era o mais brilhante, porque, enquanto os demais eram “especialistas”, Ivanovitch era um universalista – gostava de matemática, de química, de física, de política, de filosofia, de romance, lia como um animal que tem fome de letras, e possuía um bom humor que era uma crítica ao mundo.

Por que as pessoas não são lineares? Por que os indivíduos que levam a vida a gargalhar tendem a terminá-la com amargura ou violência? Por que os indivíduos soturnos, sombrios, não são os que enfiam o cano na boca e estouram os próprios miolos? Não, o trágico quer os pletóricos, os plenos de verve e coração. Pois assim como o câncer, que dizem se alimentar da saúde vigorosa, o golpe de 1º de abril comeu o cérebro do meu amigo. E ele que era diurno, solar, tornou-se febril e noturno, naquele fim de tarde.

- Cadê Ivan? - perguntei, na volta da padaria. – Cadê Ivan? – perguntei, porque eu queria com ele conversar os últimos acontecimentos, queria que ele me explicasse os tanques na rua, se Arraes ainda era governo, se os comunistas haviam perdido a batalha. – Cadê Ivan?

- Vem ver o teu amigo. Veja como ele está. – E sua mãe me conduziu até o quarto, que era uma divisória de tabique sem porta, como um quarto de estúdio de cinema. E ela se pôs a chamá-lo, a dizer-lhe que eu estava ali, como se eu tivesse o dom de fazê-lo voltar à realidade, realidade que ela não sabia ser o pesadelo a se inaugurar. Chamava-o, “Ivan”, para torná-lo ao Ivan de 31 de março, ao rapaz que era a esperança daquela família de seu Joaquim-da-carne-de-porco.

Ele ouviu, hoje sei, ele ouviu porque respondeu, para explicar o seu tormento:

- As cobrinhas estão subindo em mim. Mãe, me tira essas cobrinhas.

Sei agora que naquele delírio Ivan não perdeu de todo a lógica, a razão. Será que enlouquecemos assim, num diálogo entre a desrazão e a razão? Vejam, e nesta manhã em que escrevo me chega a voz de Nat King Cole cantando como naqueles anos, na tela do Cine Olímpia, do Cinema Império, ouço Nat arremedando o espanhol “adios, mariquita linda”, vejam, agora percebo: ele diminuía o tamanho das serpentes, para ter miríades delas a subir-lhe pelas costas.

Vejam, havia uma incompatibilidade de áreas físicas de suas costas para as serpentes normais, em grande número. E por isso ele as diminuía ao tamanho de se verem de microscópio, que lógica infernal, como eram micros só ele as via! Meu amigo delirava e, para ele, para mim, último consolo, perdia a razão, mas não perdia a inteligência.

Muitos anos depois eu o revi. Estava mais largo, obeso, imenso, com os gestos lentos de um drogado. A face, sem acusar reação, só olhos mortiços, distantes, que não me reconheceram. Ele passou ao largo de mim como um hipopótamo sem sombra, como um elefante sem orelhas, sem tromba, sem dentes passaria, só a grande massa de carne. Então eu soube que mais uma vez a barbárie vencera. Parabéns, gorilas, parabéns, golpistas. A família de Ivan até hoje conta que ele enlouqueceu em 31 de março. Esquecem que foi em um 1º. de abril. Não sei se isso faria o meu amigo dar uma gargalhada, ampla, grande, sui generis.

Fonte: vermelho.org.br

Avós da Praça de Maio restituem identidade de mais um neto

As Avós da Praça de Maio confirmaram neste sábado (6) a restituição da identidade de uma jovem roubada de seus pais durante a última ditadura militar argentina (1976-1983), com a qual se somam 105 os netos "recuperados" pelo organismo humanitário.


A moça estabeleceu sua verdadeira identidade através de uma mostra realizada no Banco Nacional de Dados Genéticos, indicou em comunicado a entidade, que não deu mais detalhes sobre o caso.

"Recuperamos a identidade de mais uma neta, graças à luta das Avós da Praça de Maio. Já somos 105 netos!", manifestou em sua conta do Twitter o legislador Juan Cabandié, filho de desaparecidos.

As Avós, que divulgarão mais detalhes do caso na próxima semana, tinham recuperado até o momento a identidade de 104 filhos que foram roubados de seus pais desaparecidos durante o regime.

Pela iniciativa das Avós da Praça de Maio, cerca de 3,3 mil jovens argentinos participaram da Comissão Nacional pelo Direito à Identidade (Conadi) para investigar sua procedência devido a que se calcula que 500 bebês foram roubados de seus pais durante a ditadura militar.

Segundo o governo argentino e organizações humanitárias, cerca de 30 mil pessoas desapareceram durante o regime

Fonte: vermelho.org.br

Teresópolis: CGU confirma irregularidades na aplicação de verbas

  1. A Controladoria-Geral da União (CGU) e a Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec) encontraram irregularidade na aplicação dos R$ 7 milhões que o governo federal enviou para a reconstrução de Teresópolis, após as destruições causadas pelas chuvas em janeiro. Há indícios de direcionamento na contratação de construtoras, fraude na atuação de uma empresa, e ausência de comprovantes de pagamento.


  2. A fiscalização constatou que duas das três construtoras contratadas para desobstruir e recuperar vias públicas são sócias. Também descobriu que uma delas foi contratada sem cotação prévia, contrariando a Lei das Licitações. A Prefeitura, por outro lado, não fez o controle apropriado dos serviços prestados pelas empresas, que custaram R$ 5,7 milhões.

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    A terceira construtora – que funcionava como uma locadora de vídeo até 2009 – é acusada de não ter capacidade técnica e profissional para executar os serviços. O endereço indicado nos documentos é em um edifício residencial e seu sócio-administrador era um montador de equipamentos eletrônicos até 2009.

    O problema do endereço irregular também foi encontrado na empresa contratada para armazenar e selecionar doações. O pagamento de R$ 208 mil registrado em nota fiscal não consta do processo referente à contratação da empresa.

    A CGU também alegou que os pagamentos feitos pela Prefeitura foram ilegais. O valor era adiantado com dinheiro do município e depois coberto com a verba federal. De acordo com a CGU, a prática dificulta a fiscalização da aplicação do dinheiro e pode indicar pagamento em duplicidade.

    O relatório de fiscalização foi encaminhado à Prefeitura de Teresópolis, para que se manifeste em até 30 dias. Depois disso, o relatório será encaminhado ao Tribunal de Contas da União.

Fonte: vermelho.org.br